Em tempos de crise existe uma reação em cadeia de desafios que se formam. Pessoas e empresas tiveram que reinventar suas rotinas, fluxo de atividades, deslocamento, logística e hábitos de consumo. As marcas têm o desafio de se adaptar neste contexto e se posicionar de maneira inteligente perante o seu público, mas esse momento também oferece oportunidades de inovação para as empresas.
Agir rápido, com ações contínuas evita com que as empresas caiam no ostracismo, mantendo-se na mente do consumidor para atendê-lo quando ele voltar a consumir com mais tranquilidade.
Essa é uma qualidade essencial para o cenário atual e um indicador de como vão se sair quando a crise passar.
Os consumidores reconhecem e recompensam as empresas que conseguem exemplificar este tipo de resposta ágil. Estamos começando a ver um pouco deste reconhecimento para as marcas que conseguiram reconfigurar os processos de fabricação com o intuito de produzir álcool em gel ou máscaras faciais, por exemplo, ou lojas de varejo que estão usando as janelas do drive-thru de sua loja como pontos de venda.
Estas são soluções criativas que os consumidores apreciam e lembrarão destas empresas mesmo depois de passado o coronavírus.
Existe uma oportunidade real para os fabricantes de alimentos de grande porte melhorar a equidade da marca atuando como fornecedores de empresas de menor porte que possam estar passando por dificuldades durante a atual crise.
Em alguns lugares, vimos restaurantes e bares operando como mercearias improvisadas, vendendo os seus itens diretamente aos consumidores.
Existem muitas preocupações a respeito do futuro que nós estamos construindo. Segundo o relatório Trust Barometer 2020, da Edelman, os consumidores continuam preferindo as marcas em que confiam, mesmo que elas não sejam as com o melhor preço. O estudo aponta que 75% dos entrevistados dizem que “comprarão o produto mesmo que ele não seja o mais barato”. Fica claro como não apenas entregar um produto de qualidade é importante, mas também manter um relacionamento com seu cliente é essencial para que ele o enxergue como um parceiro em que pode sempre confiar.
Mesmo em meio à mudança, os panificadores e fabricantes continuam focados na qualidade e segurança de seus produtos.
À medida que os consumidores buscam alimentos que são familiares e oferecem conforto, os fabricantes poderão atrair um consumidor que antes optava por outros itens especiais.
O presidente e diretor executivo da Associação de Panificadores dos EUA, Robb MacKie, acredita que os panificadores têm uma grande oportunidade durante este período de divulgar os benefícios dos grãos para a saúde e como os produtos panificados consegue entregá-los.
Enquanto isso, a BEMA (Bakery Equipment Manufacturers and Allieds [Fabricantes de Equipamentos de Panificação e Aliados]) tem observado o desenvolvimento de excelentes canais de comunicação entre panificadores e fornecedores por conta da pandemia. Os membros não podem atender presencialmente, mas estão utilizando todas as outras formas de comunicação para permanecerem conectados e atenderem às necessidades dos seus clientes.
Recentemente a Kantar World Panel fez uma pesquisa global relacionadas as mudanças dos hábitos alimentares atuais. Um dos resultados foi o aumento da percepção das pessoas de que é necessário cuidar do sistema imunológico, através principalmente do consumo de alimentos e bebidas saudáveis. Entre os brasileiros, 25% consideram comprar mais alimentos saudáveis e nutritivos a partir de agora, sendo que 24% dizem já estar consumindo mais frutas, verduras e legumes atualmente. 27% reduziram suas idas as lojas e supermercados com medo do vírus e 38% afirmam ter mais cuidado com segurança e higiene ao comprar nas lojas.
Desafios de curto prazo
No mundo da panificação, os especialistas da Corbion dizem que embora seja difícil prever muitos dos impactos de longo alcance sobre o setor de alimentos, é certo que alguns comércios nunca mais serão o mesmo.
“O setor de restaurantes em particular vai ser forçado a encontrar um novo normal após sofrer enorme redução no tráfego de clientes. Outros, como os fabricantes de alimentos, serão impactados com os problemas da cadeia de suprimentos ocasionados pelas regiões mais afetadas pelo coronavírus”.
Conforme isto se desenvolve, será cada vez mais desafiador para os fabricantes obter matérias-primas e produtos acabados. Em países em que a pandemia finalmente está recuando, a disponibilidade de certos materiais mudará com frequência. Um subproduto de toda esta incerteza, segundo a Corbion, é que os fabricantes terão dificuldades em criar previsões de produto exatas que atendam às exigências em constante mudança dos consumidores.
“Um exemplo disso é a escassez de fermento nos Estados Unidos, em que o aumento da demanda por parte dos consumidores foi originado pelo repentino interesse de fazer pão em casa. Sem haver nenhum tipo de histórico de compra anterior para fundamentar as suas estimativas, os fabricantes de fermento e fabricantes de vários outros produtos alimentícios vão encontrar dificuldades no curto prazo enquanto se adaptam a essas novas e únicas exigências por parte do consumidor”.
De acordo com o coordenador de educação da Associação Internacional de Panificação Lácteos e Confeitaria (IDDBA), Eric Richard, é um “conto de dois segmentos”. Por um lado, as vendas de itens básicos têm se saído bem, com aumento de 60 a 80% na venda de pães em algumas semanas em relação às mesmas semanas do ano anterior.
Logo no início da pandemia existia um medo em relação ao desabastecimento, hoje já sabemos que isso não é uma realidade, porém várias pessoas optaram por estocar mantimento para reduzir as visitas ao supermercado e a exposição ao vírus. Esse comportamento de compra pode continuar mesmo após o término do distanciamento social, influenciando os consumidores na hora de escolher um canal de varejo.
Com a preocupação com a saúde em alta também vemos agora os consumidores se importando em comprar mais alimentos e bebidas que tenham benefícios relacionados a sua saúde. Agora estando mais em casa e com os impactos gerados pela redução de renda, o consumidor está se adaptando e mudando velhos hábitos. Cozinhar em casa por exemplo é um deles, que é a forma mais fácil de economizar e zelar pela saúde.
A necessidade de segurança das pessoas está em erosão.
Em tempos incertos, os consumidores dizem que as dificuldades que experimentam em relação à saúde e às finanças estão entre as razões pelas quais a confiança na marca se tornou mais importante hoje do que era no passado. Sentem-se vulneráveis e buscam produtos e serviços dos quais eles possam confiar, que acreditam na qualidade.
Ou seja, a Busca por saúde, segurança e autenticidade se tornam atributos mais importantes nas relações entre consumidores e empresas. Para um novo momento da nossa história, existe um novo consumidor e as empresas precisam compreender essas novas necessidades.